segunda-feira, 28 de dezembro de 2015





Onde não houver amor, não se demore.” (Eleonora Duse)


Digamos adeus à amizade que já deixou de fazer falta, que não tem tempo de nos ouvir e animar, que já não aparece em busca de conselhos, nem quer saber de nossas vidas. É preciso despedir-se de amizades que não acrescentam, que nos diminuem, que nos trocam facilmente, que usam nossos segredos contra nós, puxam nossos tapetes, esgotam nossas energias.
É necessário dizer adeus ao serviço que nos empobrece, que alimenta nossa miséria emocional, que nos impede de sorrir, que não nos oferece oportunidades, que nos assedia moralmente, não nos ouve. É necessário despedir-se dos chefes desumanos, dos colegas de trabalho hipócritas, das jornadas extenuantes, da mesquinharia com o cafezinho, dos gritos e erros destacados, da humilhação velada, da estagnação que anula nossas capacidades, da cordialidade venenosa na mesa ao lado.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A felicidade em tempos sombrios

A maior fonte de infelicidade da história da humanidade é a felicidade. Quem tem, teme perdê-la. Desespera-se. Quem não tem, sofre tentando obtê-la. Enlouquece. O problema é que não se sabe bem o que é felicidade. Dizem que é passageira, mas todos querem que seja permanente. Nas últimas décadas, a felicidade tornou-se uma obrigação. Quem não a tem, fracassa. O fracasso é o pior estigma em sociedades de competição total. Os filósofos gregos – sempre dá um charme falar nos gregos antigos, que os atuais só aparecem em manchete negativa – viviam falando em felicidade. Davam nome para tudo. Chamavam a felicidade de “eudaimonia”. Era uma benção divina.
Sófocles, aquele mesmo que emplacou sucessos universais e intemporais sobre a insensatez, com AntígonaÉdipo Rei, Electra e Édipo em Colona, escreveu que “o bom senso é a principal parte da felicidade”. Vê-se que Sófocles não tem sido lido nem ouvido nos últimos tempos. Ser feliz hoje está mais para a ruptura total com o bom senso. É preciso ser rico, forte, famoso, invejado, viver intensas emoções diariamente, ter muitas paixões e objetos. O filósofo alemão Kant, que era um sujeito bizarro, escreveu isto: “A felicidade é o estado em que se encontra no mundo um ser racional para quem, em toda a sua existência, tudo decorre conforme o seu desejo e a sua vontade”. Kant também não se revela muito atualizado.
Tales de Mileto entendia que ser feliz era ter “corpo forte e são, boa sorte e alma formada”. Ele não contava com o subjetivismo dos homens: um marombeiro acha que ter corpo forte e são é buscar uma musculatura doentia de tão poderosa. A boa sorte depende das ambições. A alma formada é um enigma. O britânico Bertrand Russell, em A conquista da felicidade, sustenta que ser feliz é eliminar o egocentrismo. Ferrou. Buscamos a felicidade, hoje, no máximo de egocentrismo. Os gregos acreditavam no umbigo do mundo. Ficava em Delfos. Estive lá. Pretendo voltar. Mas isso é outro assunto. Superamos os gregos. Nós somos o umbigo do mundo. Cada um de nós.
Kant não teria casado, apesar de ter encontrado uma musa, por ter feito os cálculos projetando, a partir do que ganhava, de quanto precisaria para sustentar a família ao longo do tempo: pelo seu método racional, não seria feliz. Para evitar a infelicidade, teria tornado a moça infeliz. Curiosamente Kant acreditava no casamento: “Se não pensas em descobrir um novo sistema astronómico que suprima o de Copérnico, bem como o de Ptolomeu – então, casa-te”. Kant dizia não ter casado por não ter dinheiro quando o casamento poderia ter lhe sido proveitoso e só ter vindo a ter dinheiro quando o casamento já não lhe serviria para muita coisa. E a felicidade? Pode estar em muitos lugares, até no casamento, desde que não seja uma obsessão.
Há quem se separe para viajar e quem viaje para se separar. As viagens tornaram-se símbolo de felicidade numa época em que se tornaram obsoletas. O máximo da felicidade para alguns é nunca estar no mesmo lugar, o que faz a felicidade da indústria do turismo. O que é a felicidade? Certamente não é ensanguentar o mundo por devoção ou fanatismo.

AMIZADE A GENTE DÁ. NÃO PEDE, NÃO COMPRA E MUITO MENOS COBRA! -

AMIZADE A GENTE DÁ. NÃO PEDE, NÃO COMPRA E MUITO MENOS COBRA! -
O que querem os idosos do século 21? Independência. Viver a longevidade que a saúde mental e física lhes proporciona.  De terceira ou quarta idade, não importa o rótulo social classificatório, as senhoras e senhores procuram cuidar de suas próprias vidas. E uma das medidas é ficar longe da rotina dos filhos. Porque, agora, chegou a hora dos pais saírem de casa.
E esse “desejo adolescente” já pode ser comprovado por pesquisas. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no início de 2014, mais de 3 milhões de brasileiros rebelados contra as normas sociais de dependência moram sozinhos.
Eles se mantiveram em suas casas após a saída dos filhos ou decidiram fazer as malas e tocar a própria vida. Apenas no Distrito Federal, são mais de 26 mil que não estão dispostos a abrir mão da liberdade em nome de uma vida “mais segura” ao lado de família.
No Brasil há muitas histórias de homens e mulheres, com até mais de 80 anos, que dão conta de suas atividades, sem recorrer aos filhos. Geralmente a rotina é dividida com uma funcionária que, além de companhia, faz os serviços de casa. Filhos, noras e netos? São visitas queridas recebidas com mimos e oferecem apoio em momentos inevitáveis de vulnerabilidade, o que ocorre em qualquer idade.
As senhoras e os senhores que investem em seus próprios espaços moram sozinhos mas não são solitários. Basta observar o aumento de atividades e viagens promovida, especialmente para quem já passou dos 60, 70 ou 80. Eles fazem muito. E, o melhor, a hora que querem, e como querem. Deixam de lado a tal da síndrome do “ninho vazio” e aproveitam a saída dos filhos para dar vivas à independência.

sábado, 14 de novembro de 2015

“A vida às vezes nos dá um breque, freia de vez, que até machuca. Algumas perdas e dores, alguns desamores, nos derrubam e nos deixam no chão. E quando vemos nem percebemos quanto tempo estivemos parados, lá. Não foi por querer... Há dores tão pesadas que não nos deixam levantar, nos mantém sentados, ali, sem querer prosseguir. Como um grito que só nós ouvimos, como um luto que só nós vivemos, sem que ninguém possa compreender. Quando, de repente, a mesma vida nos chacoalha: ‘Vamos, é hora de continuar!’. Ergo-me dentre minhas próprias cinzas e aposto no meu amanhã, afinal minha vida sempre foi assim, esta sucessão de recomeços. As dores, outrora pesadas demais, tornam-se pouco a pouco uma doce lembrança e um valioso aprendizado, cujo ensinamento é não paralisar mais diante de determinadas situações. A vida me ensinou a levantar e eu reaprendi a sorrir. Cada detalhe desta caminhada me enaltece e cada passo me torna melhor. A saudade e a lembrança tomam conta das minhas horas, mas eu insisto a conjugar o verbo prosseguir. O grito preso em nosso interior, e que apenas nós ouvíamos, perde- se no vácuo deixado pelo primeiro sorriso de superação. E então continuar deixa de ser uma obrigação e o tempo nos mostra que nada mais é do que o cumprimento da nossa missão. E pela possibilidade do novo, de novo: Eu agradeço!A gratidão é ferramenta que possibilita o recomeço. Concentrar-se nas boas lembranças do que perdemos e no que ainda temos, e não no que não vamos ter mais. Fazer do passado visita e não moradia, planejar o futuro sem demasia, vivendo e agradecendo a dádiva do hoje. Seguir em frente é desafio bonito que a vida nos dá. Todavia, para ela, nada passa em branco. Pela coragem de aceitá-lo, ela nos presenteia com a tal da felicidade, aquela verdadeira, do peito, da alma, aquela que decide ficar."
Rachel Carvalho e Erick Tozzo

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Tenho amigos...

Tenho amigos de infância que conheci na vida adulta.
Pessoas que, sem querer, sem receio ou demagogia, apareceram em alguma esquina do meu caminho, me pegaram pela mão e pelo coração e com os olhos cheios de liberdade me convidaram ‘vamos brincar!’.
Fiz amigos depois de adulta que parecem me conhecer desde o berço, parecem que me viram crescer, que caminharam ao meu lado por todos esses anos. Compartilhando quedas e conquistas, ideias e planos.
Tenho amigos que, apesar de nunca termos morado na mesma cidade, bairro, estado, ou frequentado a mesma escola, aula de inglês ou brincadeiras de rua, traçamos caminhos paralelos de vida e aprendizado e por alguma feliz coincidência, nos encontramos e reconhecemos.
Tenho amigos que descobri depois de velha que, inexplicavelmente, sabem completar minhas frases, sentem como se estivessem na minha pele, pensam como se compreendessem profundamente os meus pensamentos. Me conhecem muito mais que minha mãe, meu terapeuta e meu marido. Amigos que me adivinham, que chegaram prontos e inteiros, se encaixando tão bem nas dimensões do meu coração.
Fiz amizades na vida adulta que me resgatam a infância. Amizades com gosto de sábado à tarde, castelo de areia, picolé de frutas, acampamento no quintal.
Dividimos os segredos, os medos, as dúvidas, as aventuras. Brincamos, sorrimos, choramos. Conversamos sobre o mundo e suas possiblidades, sobre a amplitude da vida e sobre as pequenas coisas que, na grandiosa e fugaz vida adulta, passam desapercebidas. Nos encontramos para celebrar a existência.
Nos interessamos mais em saber como vamos aproveitar o dia do que como vamos ganhar a vida.
Tenho a sorte de ser adulta e ter amizades infantis. Daquelas sem formalidades, mas cheias de curiosidades, conversas intermináveis, imaginação solta. Energia que transcende tempos e espaços.
Tenho a sorte de nesta fase ‘madura’ ter encontrado a textura verde e fresca de uma amizade pura.
Clara Baccarim.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Minha amiga trabalha em um brechó de um hospital, como voluntária. 
Certo dia adentrou na loja uma certa "senhora bastante obesa", e de cara a minha amiga penso
u que não tinha nada na loja na numeração dela.
Se sentiu apreensiva e constrangida naquela situação, vendo a senhora percorrer as araras em busca de algo que minha amiga sabia que ela não encontraria.
Ficou angustiada, porque não queria que a senhora se sentisse mal pelo tamanho das peças de roupas, se sentindo excluída e fazendo a questão sobre o seu sobrepeso vir à tona de forma implícita.
Naquele momento minha amiga orou a Deus e pediu que lhe desse sabedoria para conduzir a situação evitando que a cliente se sentisse excluída ou humilhada na sua autoestima.
Foi quando o esperado aconteceu. A senhora se dirigiu à minha amiga e disse tristinha:
"É... não tem nada grande, não é?
E a minha amiga, sem até aquele momento saber o que diria, simplesmente abriu os braços de uma ponta a outra e lhe respondeu:
"Quem disse??? Claro que tem!! Olha só o tamanho desse abraço! - E a abraçou com muito carinho.
A senhora então se entregou àquele abraço acolhedor e deixou-se tomar pelas lágrimas exclamando:"Há quanto tempo que ninguém me dava um abraço."
E chorando, tal qual uma criança a procura de um colo, lhe disse:"Não encontrei o que vim buscar, mas encontrei muito mais do que procurava".
E naquele momento, através dos braços calorosos de minha amiga, Deus afagou a alma daquela criatura, tão carente de amor e de carinho.
Quantas almas não se encontram também tão necessitadas de um simples abraço, de uma palavra de carinho, de um gesto de amor.
Será que dentro de nós, se procurarmos no nosso baú, lá nas prateleiras da nossa alma, no estoque do nosso coração, também não acharemos algo "grande" que sirva para alguém?
Um grande abraço, tamanho GG pra você!

terça-feira, 31 de março de 2015